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Photograph - Ed Sheeran

É cada vez mais difícil e distante um momento de parada. De parada de tudo. Onde o olho consegue parar no espelho ou na tela e com calma, respirar leve e consigo expor a catarse, momento ímpar para qualquer um que de algum modo queira, possa e consiga o colocar, com extrema liberdade, sem necessidades de estilísticas ou qualquer arrojo mais requintado e ao mesmo tempo muito fidedigno ao momento. Só pelo simples prazer de depositar a cada instante toda e qualquer palavra que saia da mente no presente momento de uma escrita para criar uma tentativa de escrita descritiva.

É muito bom identificar isso em um autor, que é um fator que prende e muito a leitura. A narrativa construída aos passos, mas sem pretensões iniciais. Com objetivos que são construídos apenas durante o ato de os colocar. É como tocar uma música de improviso, digamos com inspiração, mas não um improviso superficial, uma descrição. 

Resolvendo imitar ou quase, uma “análise musical”, revi Photograph, que mais do que um clip é uma construção de momentos, de memórias que vão surgindo na tela e que independente de estilo vão conseguindo captar a atenção e cavar não só lembranças, mas também referências e sentimentos específicos de cada cena.

É como se o autor da música o obrigasse na narrativa melódica e também visual a participar das lembranças construídas em cada momento gravado, coisa que infelizmente a mente vai apagando com o tempo e dando espaço para outras coisas, que na maioria das vezes são bem menos valiosas e importantes, claro.

Qualquer rotina vai afastando um tradutor de momentos e tradutor de sentimentos. E a cada momento ruim ou repetitivo, este é empurrado para fora da criatividade e do seu trabalho de tradução, o que vai gerando cada vez menos criatividade e “tradução de momentos”.

O sancta simplicitas! “Em que curiosa simplificação e falsificação vive o homem! Impossível se maravilhar o bastante, quando se abrem os olhos para esse prodígio! Como tornamos tudo claro, livre, leve e simples à nossa volta! Como soubemos dar a nossos sentidos um passe livre para tudo que é superficial, e a nosso pensamento um divino desejo de saltos caprichosos e pseudoconclusões! - Como conseguimos desde o princípio manter nossa ignorância, para gozar de uma quase inconcebível liberdade, imprevidência, despreocupação, impetuosidade, impetuosidade, jovialidade na vida, para gozar a vida!” Espírito livre?

Eu espero que você olhe assim, pense diferente, leia isso depois, e lembre disso que tentei lembrar e deixar aqui para você ler. Sei que talvez você visitará os textos um dia, eu o faria como pesquisa. São infindáveis os momentos, intraduzíveis, eles passaram, não voltam, claro, só ficaram gravados aqui. Foram indizíveis, indivisíveis, totalmente incompatíveis com o tal mundo real de racionalidade e responsabilidade ridiculamente formal. Não a deixe levá-lo a repetir esses “erros de repetição”, eu fui incapaz. Com certeza há muito mais do que isso e você precisa saber e explorar. A criatividade é um meio, a melodia é um som, mas também é um silêncio. Uma foto.





Referências:

Fábio Fleck;
Photograph - Ed Sheeran (Official Music Video);
Nietzsche, Friedrich Wilhelm, 1844-1900 - Além do bem e do mal (Companhia das Letras);

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